Este blog é um espaço interativo que aborda temas relacionados a existência humana como as Artes Visuais, demais linguagens artísticas em geral, também sobre História, Politica, Filosofia, Sociologia. This blog is an interactive space that addresses topics related to human existence such as Visual Arts, other artistic languages ​​in general, also about History, Politics, Philosophy, Sociology.

segunda-feira, 26 de março de 2018

BRIAN MIER: "MECANISMO, serie do diretor padilha, É FRAUDE A SERVIÇO DOS ESTADOS UNIDOS"


Felipe Gonçalves

Editor do site Brazil Wire, o jornalista norte-americano Brian Mier diz que a série "O Mecanismo", dirigida pelo brasileiro José Padilha, é uma fraude a serviço de interesses dos Estados Unidos; "é uma fake news a serviço do capital estrangeiro, que chega a culpar Lula e Dilma por atos de Romero Jucá, um dos arquitetos do golpe de 2016"; Mier lembra que a Netflix tem, entre seus acionistas a Black Rock, que é também investidora de petroleiras como Shell e Chevron; "Padilha está fazendo o papel de entreguista para os gringos", afirma.
O site Brazil Wire, editado pelo jornalista Brian Mier, repercutiu a polêmica em torno da série "O Mecanismo", da Netflix, que falsifica fatos históricos e chega até a colocar na boca do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma frase do senador Romero Jucá (PMDB-RR). Como se trata de uma peça de propaganda política, e não de entretenimento, O Mecanismo fez com que muitos assinantes da Netflix cancelassem o serviço.
Na visão de Brian Mier, a série serve a interesses dos Estados Unidos e o diretor José Padilha cumpre o papel de entreguista. "Como Dilma Rousseff observou, 'O Mecanismo' é um programa fraudulento, cheio de mentiras, um verdadeiro produtor de fake news a serviço do capital estrangeiro, que culpa Lula e Dilma pelos piores elementos de corrupção envolvendo arquitetos do golpe de 2016 como Romero Jucá", diz ele.
"O filme 'Tropa do Elite' me marcou na primeira vez desde que me mudei para o Brasil, em 1991, quando que eu vi que um grande percentual da população brasileira nega o conceito de Direitos Humanos, estabelecido pelo ONU em 1948. Por caso de Padilha, o nível de confusão sobre este conceito é tão grande que o Jornal Extra foi obrigado, depois do assassinato de Marielle Franco, a tentar explicar para seus leitores o significado dos direitos humanos", pontua.
Mier apontou ainda conexões entre a Netflix e as petroleiras americanas. "A Netflix é uma companhia controlada pelos grandes grupos de capital financeiro como Capital Group e BlackRock. A BlackRock movimenta mais dinheiro anualmente que o PIB Brasileiro e é o maior acionista nas petroleiras Shell e Chevron, que se beneficiaram com o golpe de 2016, através da privatização do petróleo brasileiro, e o abatimento de impostos de Temer pela MP 795/2017, o chamado MP de Trilhão. Ou seja, quem ganha com um programa de propaganda criado para destruir a reputação do partido PT durante um ano eleitoral são os gringos. O neofascista José Padilha esta fazendo o velho papel de entreguista para os interesses de capital internacional, trabalhando contra os interesses do povo brasileiro, pelo sua própria benefício."
Leia, abaixo, a reportagem do Brazil Wire:
On March 23, Netflix launched a new series called “The Mechanism” about a court case which is still underway, featuring a character based on the Brazil’s leading presidential candidate, Luiz Inacio “Lula” da Silva, during an election year. The series is directed by José Padilha, who’s Narcos program has been criticized for looking at the behavior of American agents in Colombia through rose colored glasses. Billed as a program that is based on real events, it is full of factual discrepancies, most of which take words and actions from corrupt and conservative politicians and businessmen and associate them with the center-left PT party. Not surprisingly, pro-big business presidential candidate Marina Silva is already using the program in attack memes to promote her candidacy. On March 25, an angry Dilma Rousseff issued the following statement accusing the program of character assassination and pointing out various slanderous events placed into the story by Padilha and his team.

by Dilma Rousseff.
José Padilha’s Character Assassination Mechanism
Brazil continues, alive, despite the illusionists, the sellers of hatred and the round the clock coup mongers. Now, the pro-2016 coup narrative gains new colors in a distorted version of history with undertones of our nation’s latent fascism.
Under the guise of telling the story of the Lava Jato investigation in a series “based on real events”, the director José Padilha distorts reality and spreads all sorts of lies to attack me and president Lula.
The series, “The Mechanism” on Netflix, is underhanded and full of lies. The director invents facts. He doesn’t merely reproduce fake news. He has turned himself into a creator of fake news.
The director places the Banestado bank corruption scandal, who’s main witness was Alberto Yousseff, onto an alternative time-line. In a series, “based on real events”, the least one could do is pay attention to the time when things happened. The Banestado scandal did not start in 2003, as it appears in the series, but in 1996 during the Fernando Henrique Cardoso administration.
In my case, the director uses the same character assassination techniques used by the Brazilian press, spreading lies in the TV series, some of which are so blatant that even the big national media companies haven’t had the courage to even hint at them.
Alberto Yousseff never participated in my reelection campaign and never visited my campaign headquarters, as is erroneously portrayed in the very first episode of the series.  The truth is that the he never had any contact with anyone in my campaign.
Padilha’s bad faith is obvious, to the point of creating another fantasy: that I was friends with Paulo Roberto Costa. This is not true. I never had any type of personal friendship with Paulo Roberto. He was fired from Petrobras during my presidency.
On the TV series, the director has the nerve to use the notorious words of Senator Romero Jucá (PMDB-Roraima), about “stopping the bleeding”, uttered during the time of the fraudulent impeachment in an effort to block corruption investigations into the people behind the coup. Juca was caught confessing his wish to make “a big national deal”.  It is appalling that the director puts these words in the mouth of the character based on Lula.
In the real World, Lula never said this. Senator Romero Jucá, one of the leaders of the coup, said this in a conversation with the witness Sérgio Machado, who recorded the entire conversation about the strategic nature of my impeachment.
At the time, Jucá and Machado debated about how they could paralyze the Lava Jato investigations against members of the PMDB party allied with Michel Temer, and what would be gained after the putchists took power when I was removed from the presidency in 2016.
Another lie is the declaration made by the character based on Yousseff that, in 2003, the Minister of Justice was his lawyer. This is a farce. The position was held at the time by Márcio Thomas Bastos. Padilha has made a sneaky attack against the honor of the renowned criminologist, since he is no longer alive to defend himself.
The director does not merely use freedom of artistic expression to recreate an episode of Brazilian history. He lies, distorts and fabricates. This is more than intellectual dishonesty. It is a cowardly submission to a version of the story that fears the truth.
It would be like if a movie about the last moments of John Kennedy inserted a Lee Harvey Oswald character making accusations against the victim. Or a movie where Winston Churchill makes a deal with Adolf Hitler to attack the United States. Or a movie showing Getulio Vargas as a great friend of Carlos Lacerda, supporting the Coup of 1954.
Padilha has made a fictional account of Brazilian history, but he hasn’t informed this to the audience. He declares it as based on real events and, in an underhanded manner, completely makes up passages and distorts the real facts of history to mold a reality his way, for his own pleasure.
I reiterate my respect for free speech and the freedom of artistic expression. Whoever wants to make fiction has all the right in the world to do so. But it is a stretch to say that this is a work of fiction. To the contrary, what is being done is not based on real facts, but on real distortion as a new fake news story.
See more:
http://www.brasilwire.com/dilma-rousseff-attacks-netflixs-the-mechanism-director/
https://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/348567/Brian-Mier-Mecanismo-%C3%A9-fraude-a-servi%C3%A7o-dos-Estados-Unidos.htm

domingo, 25 de março de 2018

DEFESA DA LIBERDADE

Leia sustentação oral do advogado José Roberto Batochio em defesa de Lula no STF

A tese de defesa do advogado do ex-presidente Lula, José Roberto Batochio, apresentada na última quinta-feira (22/3), no Supremo Tribunal Federal, durante o julgamento do HC preventivo contra a prisão antecipada do político, chamou atenção. Na fala, Batochio criticou a onda de punitivismo e autoritarismo a que o Brasil se submeteu. Os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli chamaram a sustentação de histórica. 
Veja a transcrição da sustentação oral de Batochio:
"Senhores ministros, os jornais de ontem de todo o planeta publicaram a prisão do ex-presidente Nicolas Sarkozy, da França. Esta prisão teria ocorrido para que os agentes do Estado, encarregados da investigação criminal, pudessem ouvir aquele que foi por duas vezes presidente da República — que no passado foi modelar, e, através do iluminismo, exportou liberdade e democracia para o mundo — para que ele pudesse ser ouvido em um inquérito, numa indagação que versava sobre recursos de contribuição de campanha.
Dei-me, então, conta de que esta maré montante de autoritarismo que se hospeda em determinado setores da burocracia estável do Estado não é um fenômeno que ocorre apenas em território brasileiro. Preocupantemente, isto está sucedendo em todo o planeta.  
Na França não se pode conhecer o conteúdo das investigações nem o investigado e nem os seus representantes. Na Itália, o processo penal está sofrendo um recrudescimento como nunca antes visto. Isto me preocupa porque a continuarem as coisas como vão, eu não sei qual é o futuro que nos aguarda. Se ele for assim, confesso aos senhores, que eu não tenho nenhum interesse em conhecê-lo porque, como disse José Bonifácio, a liberdade e os princípios libertários são uma coisa que não se perde se não com a vida. É impossível viver fora de um sistema que não seja um sistema de liberdades.
Inspirado por este acontecimento de ontem, decidi começar essa peroração trazendo a vossa excelência as palavras ditas por Chrétien Guillaume de Lamoignon de Malesherbes, que foi um grande jurista francês e advogado de Luís XVI no julgamento que o conduziu à bastilha e à guilhotina. Tinha sido ministro do rei e foi o seu advogado, sabia que ia ter de enfrentar a opinião pública e os jacobinos sedentos de sangue e punição a qualquer preço. Ele começou a defesa de Luís XVI, perante a corte francesa, dizendo o seguinte: “Trago à convenção a verdade e a minha cabeça. Poderão dispor da segunda, mas só depois de ouvir a primeira” [o ministro citou a fala originalmente em francês]. Eu aqui trago a vossa excelência também duas coisas. São dois preceitos do nosso ordenamento jurídico democrático.
Um é o artigo 5º inciso 57 da carta política e o outro é o artigo 283 do nosso Código de Processo Penal. Eles estão sob ameaça de mortificação e extinção.Trago também, como segunda coisa, a verdade que preciso dizer sem peias, sem freios, sem receios, e vossas excelências poderão, depois de ouvir, matar ou não esses preceitos democráticos que aqui estou a defender na tarde de hoje.
Qual é a origem deste preceito constitucional que instituiu entre nós a presunção da não culpabilidade ou a presunção da inocência? Em uma conversa com o eminente ministro Sepúlvela Pertence, ainda na noite passada, nos lembramos de que esse princípio constitucional que nós conseguimos introduzir na nossa lei máxima tem origem na legislação eleitoral. Porque a ditadura militar, o autoritarismo que nós vivemos em um passado não muito remoto, considerava fator impeditivo de elegibilidade — de ser sujeito ativo eleitoralmente — aquele que tivesse contra si uma denúncia recebida.
Vejam, vossas excelências, a simetria. Quando, na Constituinte de 87, na Constituição de 88, nós escrevemos o plexo de direitos que compõem o capítulo dos direitos e garantias individuais e coletivos, nós procuramos positivar no texto nobre da mais alta hierarquia legislativa do nosso país essas garantias para que nós pudéssemos ter um instrumental necessário para repelir as investidas do autoritarismo, vestisse ele verde-oliva ou envergasse a cor negra da asa da graúna.
De onde vier será repelido, porque nós brasileiros não aceitamos viver sob o tacão autoritário de quem quer que seja. E, por essa razão, é que nós escrevemos a carta política que antes do trânsito em julgado nenhum cidadão pode ser considerado culpado. Isto significa que aconteceram grandes discussões a respeito sobre se isso eliminaria as prisões, as custódias cautelares, as custódias temporárias e etc. Mas, não. Não há incompatibilidade.
Há incompatibilidade em pretender-se dar início à execução de uma pena encontrada numa sentença que não se tornou imutável. Esta é a discussão que aqui se faz. Não só pela dicção do artigo 5º, parágrafo 57, da Constituição, mas também pelo artigo 383 do nosso Código de Processo Penal que espelhadamente reflete esse dispositivo constitucional.
E o que é que nós temos nesta impetração de hoje, em que há uma certa volúpia em encarcerar um ex-presidente da República? Não que o presidente da República seja um cidadão diferente de qualquer outro, não é, ele não está acima da lei. Ninguém pode estar acima da lei, mas ninguém pode ser subtraído à sua proteção. Ninguém pode ser retirado da proteção do ordenamento jurídico.
E o que é que nós temos aqui? Nós temos aqui uma decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região que confirmou decisão condenatória proferida em 1ºgrau e que dispôs expressamente o seguinte: de acordo com a Súmula 122 desta corte regional, esgotada a jurisdição em série de revisão neste tribunal regional, expeça-se ordem de prisão e oficie-se o juiz com base nesta Súmula 122.
E o que diz essa súmula? Ela não diz o que se encontrou aqui nesta Suprema Corte, que em determinado casos, antes do trânsito em julgado há possibilidade do início da execução da pena. Não! Essa Súmula 122 é inconstitucional, senhores ministros, porque ela diz que é obrigatório o início da execução da pena. Coisa que contraria frontalmente a Constituição e o artigo 383 do CPP, e que contraria a decisão tomada aqui nessa casa que apenas acenou com a possibilidade.
Vossas excelências, proponho eu que deveriam declarar inconstitucional essa súmula. Não só pelo que ela contraria da Constituição, no sentido de dar início à execução da pena, mas porque ela transforma esse início da execução em obrigatório, contra a letra da constituição.
Quando eu vejo, senhores ministros, os tribunais — e peço vênia para dizer isso com o mais elevado respeito — entrarem a legislar, eu sinto uma frustração enorme. Eu sinto a sensação de eu perdi anos na Câmara dos Deputados quando fui parlamentar, a trabalhar em uma coisa inútil, porque as leis que nós elaboramos lá são substituídas por exegeses que as mortificam e que, às vezes, têm o desplante de contrariá-las, substituindo-as por mirabolâncias exegéticas que fazem revirar no túmulo o senhor Charles-Louis de Secondat, barão de La Brède e de Montesquieu, tal o grau do grau da sem cerimônia com que se invadem atribuições dos outros poderes para atender a não sei que inclinações. A voz das ruas? Mas a voz das ruas pertencem às ruas. Quem tem que manter a mão no pulso da sociedade das ruas não é o poder judiciário, é o parlamento. São os políticos que têm que captar os anseios e os batimentos da população e da turba, por que não dizer, e interpretá-los e transformá-los em normas.
Não é dado ao poder judiciário — e digo isso como brasileiro — nem daqui e nem de nenhum lugar do mundo, entrar a legislar para atender a este ou aquele pragmatismo, a esta ou aquela conveniência social de ocasião.
Senhores, eu pergunto como seria possível nós denegarmos esta ordem de habeas corpus. Está caracterizado o constrangimento ilegal em potência iminente. Tem dada marcada. A prisão está marcada para o dia 26 de março. Foi a data em que se marcou o julgamento dos embargos de declaração e já está decidido: julgados os embargos de declaração, esgotou-se a jurisdição, mandado de prisão nos termos da súmula 122.
Agora, eu pergunto a vossas excelências, se nós temos na casa duas ações diretas de constitucionalidade, de que é relator o eminente ministro Marco Aurélio, e se este Plenário declarar a constitucionalidade do artigo 383 do CPP, como é que nós vamos justificar a prisão de um ex-presidente da República por um esquito, uma vacilação? Por que esse açodamento em prender? por que esta volúpia em encarcerar? O que justifica isso se não a maré montante da violência da autoridade, se não a maré montante da volúpia do encarceramento?
Três anos atrás, em um evento da Ordem dos Advogados do Brasil, nós já tínhamos dito isso: se o judiciário não entender pela ciência, pela razão, pela racionalidade, que o encarceramento em massa é uma política desastrosa, vai ter que engolir essa realidade pela necessidade econômica  que a superpopulação carcerária acarreta. Nós não podemos querer resolver todos os problemas.
Agradeço e peço que seja concedida a ordem para o efeito de se determinar que se aguarde pelo menos o julgamento das duas ações direta de constitucionalidade, se não for aguardar o trânsito em julgado. Muito obrigado".

https://www.conjur.com.br/2018-mar-24/leia-sustentacao-oral-batochio-defesa-lula-stf

sábado, 17 de março de 2018

Na hora que isto aqui explodir, Ruanda vai ser pouco
por Eugênio Aragão
Terror? Niemals. Es ist Sozialhygiene. Wir nehmen diese Individuen aus dem Umlauf, wie ein Mediziner einen Bazillus aus dem Umlauf nimmt.”
[Trad. “Terror? Jamais! Isso é higiene social. Nos retiramos esses indivíduos de circulação, como um médico retira um bacilo de circulação.”] – Benito Mussolini, apud Joseph Goebbels, citado no artigo “Der Jude”, in Der Angriff, 21.1.1929.
Segunda-feira estive no Rio de Janeiro para um debate sobre a intervenção militar. Entre os debatedores estava Buba, moradora de Acari e ativista comunitária. Seu relato sobre a situação dos moradores de favelas e da periferia me deixou sem palavras. Não tinha nada a dizer diante do descalabro do drama vivido por essa enorme maioria de brasileiras e brasileiros, espremidos entre as balas da polícia-bandida e do tráfico opressor.
Buba vive perto de um beco que exala fedor de sangue coagulado, suor e fezes. Lá é frequente serem “desovados” cadáveres de moradores sumariamente executados pela criminosa repressão e pela repressão dos criminosos. A morte a tiros ali é rotina e, como disse Buba, não sabem os moradores diferenciar entre o que é uma ditadura e a tal “democracia” por que clama a burguesia da Zona Sul, ávida por consumir e viajar a Miami e Europa. Em Acari não há democracia e nunca houve, seja com Lula, com Dilma ou com os golpistas de hoje.
A execução da vereadora Marielle Franco causou-nos comoção. Figura pública, lutadora contra a violência e pelos direitos LGBT, tinha muito a contribuir para o Brasil e para o Rio de Janeiro em especial. Foi assassinada covardemente por quem certamente não estava gostando de sua atuação à frente de comissão de monitoramento da intervenção militar no Rio. Denunciou com veemência a violência letal em Acari e por isso morreu a tiros. Os moradores do bairro de certo a pranteiam, mas encaram sua morte como apenas mais um triste sinistro da rotina de execuções que experimentam cotidianamente.
O que o povo do asfalto não consegue assimilar da sua redoma de bem-estar é que Acari constitui a maior parte do Brasil. É como vive a grande massa de nossas patrícias e nossos patrícios no entorno de Brasília, na Baixada Santista, nos Alagados de Salvador; é na Zona Sul de São Paulo, em Santa Rita ao lado de João Pessoa, no Complexo do Curado em Recife… e por aí vai.
Brasileiras e brasileiros, em sua maioria, vivem com o reto na mão, não sabendo se hoje será, ele ou ela, escolhida para morrer a bala. E entre um tiroteio e outro têm que trabalhar, cuidar da família, pagar impostos e cumprir com suas obrigações cívicas. Tempo para fazer política, se instruir, para participar de debates não têm. Acordam cedo, se espremem suados em péssimas conduções públicas, se alimentam mal e chegam a altas horas da noite da labuta diária, para, depois, serem chamados de vagabundos por escravocratas endinheirados, meganhas, bandidos ou governantes que não lhes permitem aposentar. Alguns preferem, até, dormir na sarjeta, perto do local de seu trabalho, não porque não tenham teto ou sejam moradores de rua, mas porque o transporte para casa é tão caro, que subtrairia parte significativa do sustento familiar. Em São Paulo, são acordados com jatos de água gelada a mando do prefeito milionário que acha que pobreza ofende a estética urbana.
A violência urbana, entre nós, é fruto e instrumento do apartheid social a que nossa paleo-escravocracia cultiva. No asfalto, acostumamo-nos à indiferença pela pobreza, dividimos a sociedade entre ganhadores e perdedores sem qualquer remorso. Os mais aquinhoados se cercam de muros e arame eletrificado, andam em carros blindados, para que os que supõem perdedores não os vejam e neles não se encostem.
A justiça de classe enche as cadeias de miseráveis, vistos como perigo em potencial para a manutenção do status quo. As penitenciárias e os presídios são verdadeiros aterros sanitários de gente, lixeiras da sociedade. Pouco interessa se onde cabem dez venham a se espremer sessenta ou setenta baratas humanas. Os juízes e promotores que os pilam ali estão mais preocupados com seus auxílios-moradia, seus carrões e as viagens duas ou três vezes ao ano para o exterior.
É, o povo do asfalto, um amontoado de limpinhos e cheirosos cercados de lixo e excremento. E vivem felizes com esse descaso, de dedo em riste contra qualquer político de esquerda que coloque essa realidade em cheque. Presidentes da República, então, que fazem um mínimo de esforço para diminuir o peso nos lombos da massa, são destituídos e perseguidos, acusados de corruptos pelos operadores do direito mais decaídos da história do Brasil.
E così la nave va.
Por que tem-se a certeza de que isso não mudará nunca? Será que os de cima da carne seca estão tão certos de sua impunidade, como poderosos que são? Afinal, quando a plebe for muito atrevida e se mexer mais do que seria “razoável” tolerar, decreta-se intervenção com uso das forças armadas, outra instituição que aceita bem seu papel da ditadura de classe. O pobre então recebe o tratamento de inimigo e seu bairro é chamado de terreno hostil. O resto é só mandar bala para acabar com os topetudos. Para isso, o comandante exige regras de engajamento robustas que nem em operação de uso de força imposta pelo Conselho de Segurança da ONU – triscou na repressão, morre!
É da natureza de forças armadas se apegarem ao direito de matar. Assim, além da polícia bandida e do tráfico opressor, a população marginalizada tem que aturar a tropa do exército apoiada por ar, a transformar sua vida num campo de batalha sem lei.
O que não pode deixar de estranhar é o fato de haver atores sedizentes de esquerda que, talvez por medo de perderem votos ao irem contra a maré midiática, apoiam a intervenção militar como uma “necessidade” para acalmar o Rio de Janeiro. Isso é conversa tão velha quanto a repressão dos desvalidos no Brasil. E nunca funcionou para controlar a violência urbana.
Vale a frase atribuída a Lafayette, “com baionetas pode-se fazer quase tudo, menos sentar-se em cima delas”. O que é preciso para “acalmar” não é mais tiro, não é mais bala. É política social urgente para devolver a humanidade às comunidades escolhidas para serem o lixo de nossa escravocracia. É preciso médico, professor, lazer, saneamento e urbanização que recupere a autoestima dos marginalizados. É imperioso abolir a escravidão na prática e em definitivo.
Pois, se assim não for, bala chama bala, violência chama violência. Os oprimidos são a maioria e se não quiserem mais continuar nessa condição, vão ter que se aprumar e reagir. O ódio que neles foi cultivado por séculos a fio sairá, então, de uma vez só, como um grito de “basta!”, com um vulcão em erupção a tragar com sua lava tudo que encontra pela frente. Que se cuidem nossos garbosos cheirosos, as instituições da ditadura de classe que os apoiam, pois Ruanda será fichinha diante do que nos espera. E não haverá Conselho de Segurança capaz de editar regras de engajamento para garantir o poder dos ricos.
https://jornalggn.com.br/noticia/na-hora-que-isto-aqui-explodir-ruanda-vai-ser-pouco-por-eugenio-aragao#.Wq0gAHp_bnc.facebook

terça-feira, 6 de março de 2018


O TEATRO DO STJ QUE NEGA O HC AO EX-PRESIDENTE LULA


06/03/2018

“Na verdade, o Superior Tribunal de Justiça acabou de fingir que não percebeu que o Supremo Tribunal Federal fingiu que não existem as regras do artigo 283 do Cod.Proc.Penal e artigo 105 da Lei de Execução Penal.
Assim, embora não declaradas inconstitucionais ou revogadas, estes artigos não existem para o ex-presidente Lula.

“Artigo. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória TRANSITADA EM JULGADO, no curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011)”.

“Artigo 105. TRASITANDO EM JULGADO a sentença que aplicar pena privativa de liberdade, se o réu estiver ou vier a ser preso, o Juiz ordenará a expedição de guia de recolhimento para a execução.”
Ainda dizem que estamos no Estado Democrático do Direito. Até nisto a Constituição da República não é respeitada”. (Afrânio Silva Jardim, in:https://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-teatro-dos-juizes-do-stj-vamos-fingir-que-nao-sabemos-que-eles-fingem-que-nao-sabem-por-afranio-silva-jardim/).

A texto acima mais uma vez demonstra  que a condenação do ex-presidente Lula pelo juiz criminoso de Curitiba é uma grande armação de forças mafiosas que comandam as instituições da justiça, da economia e produção, politcos da oposição, do sisitema financeiro e principalmente dos EUA. 
Pode se afirmar que foi mais um teatro, exibido ao vivo,  para humilhar e constranger o condenado sem provas. Todos os membros da sessão de  apreciação do HC se dispuseram a tecer considerações da decisão  do STF que permitiu prisão em segunda instancia, se pode ou não ser extensiva a todos os casos. Falavam de entediemnto como se  a lei mudasse de entendimento ao sabor do ventos.  Mas jamais mencionaram as alegações levantadas pela defesa, desde a usurpação de competencia de juridisção,  a conduçao coerctitiva, a divulgação dos grampos ilegais, a ligação do magistrado com o partido de oposição ao PT e com empresarios e instituições internacionais que financiaram o golpe no Brasil etc...
È mais uma aberrção já refutada por juristas e professores de direito a negação do HC. Como bem deixa explicito o professor Afranio, contra o ex-presidente tudo, a seu favor nada,  a lei não existe ou finge desconece-la.
Sinceramente, jamais pensei  que assistiria o que está acontecendo no país.  Há algo que não se sabe o que é que está paralisando o povo que não reage e não vai as ruas e tomar decisões de lutar com as arma que possui,  invadir o Congresso , a Presidencia da Republica, o STF, a PGR etc, exigir as provas, a anulção dos processos  e a partcipação do ex-presidente na eleição  do corrente ano.



segunda-feira, 5 de março de 2018



Os liberais impostores e a esquerda medrosa continuam com sua ladainha clamando contra a intolerância política,contra o ódio e contra a radicalização do processo político. Nesse final de semana foi a vez do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso visitar o muro das lamentações. Uns e outros enfatizam, como marcas da democracia, o convívio e a interlocução entre adversários, os modos civilizados de ser, a aceitação da diversidade, a polidez no debate e o respeito às leis e à Constituição, entre outros pontos. Todos eles seriam louváveis se, de fato, o Brasil fosse uma democracia. FHC acrescenta à esses valores a ideia de que a democracia se define também pelas regras do jogo político, respeitado o resultado da vontade soberana do povo no processo de escolha dos governantes que devem ter mandatos limitados no tempo. Poder-se-ia acrescentar que a democracia é um sistema no qual se usam métodos pacíficos para a solução dos conflitos sociais pela via da mediação das instituições.
Tudo isso é válido e belo, mas, no Brasil, é válido e belo para uma parte minoritária da sociedade. Os clássicos da democracia e da república, de Montesquieu a Tocqueville, entre outros, foram enfáticos e resolutos em assimilá-las à igualdade como substância necessária para defini-las. Não só a igualdade perante a lei, mas uma igualdade material. E foram categóricos em apontar as desigualdades como causas das discórdias, dos conflitos e das revoluções.
Na Europa as democracias se afirmaram pela via de revoluções, pela decepação de cabeças de monarcas e nobres, pela tomada de bastilhas, pelo assalto a palácios etc.. Nos Estados Unidos, a revolução igualitária foi prévia à  revolução política efetivada pela Guerra da Independência e pelo processo de aprovação da Constituição. No Brasil não tivemos nada disso e nunca tivemos democracia fundada no seu alicerce imprescindível: a igualdade perante a lei e a igualdade material.
Outro ingrediente absolutamente necessário à definição de democracia consiste no exercício da cidadania, algo que é residual e não universal no Brasil. Cidadania e direitos andam juntos e não temos nenhum dos dois elementos firmados de forma consistentes em nosso país. Assim, dizer que a Constituição de 1988, em que pese os seus avanços, é a Constituição cidadã, vem se revelando uma falácia. Não existe cidadania como direitos garantidos e não existe participação cidadã na vida política e social. A sociedade civil é frágil, sem força e desarticulada.
Mas o ponto principal é a desigualdade. O Brasil é o nono país mais desigual do mundo. A renda média mensal do brasileiro é de R$ 1.268. São 100 milhões de brasileiros recebendo até um salário mínino e, desses, 50 milhões vivem na linha da pobreza e mais de 13 milhões vivem na pobreza extrema, o que equivale viver com até R$ 57 por mês. Dados do IBGE divulgados na semana passada mostram que 26,4 milhões de brasileiros são subutilizados.  Pobres e mesmo milhões de assalariados não dispõem de atendimento adequado de saúde, educação, assistência etc. Além da violência, estão submetidos a riscos de toda ordem.
A Constituição e as leis são violadas pelos três poderes e pelos ricos. O Judiciário viola a ambas no plano político, econômico e social. Garante direitos para os ricos e punição para os pobres. O sistema policial está a serviço da proteção patrimonial dos ricos. Toda a situação se agravou com a instauração de um governo golpista e ilegítimo, protegido pelo Congresso e pelo Judiciário. A população sem direitos vive sob uma não-democracia e não pode usufruir da liberdade e não tem uma vida digna.
As imposturas liberais e as sucro-esquerdas afirmam que a superação das desigualdades vem com a educação. É uma meia verdade e, portanto, uma impostura ideológica para amortecer o conflito. Enquanto dizem isso, mantêm uma educação escandalosamente vergonhosa, que não emancipa ninguém, que não dá autonomia a ninguém.  Pesquisa da OCDE mostra que apenas 2,1% dos alunos pobres brasileiros têm bom desempenho escolar.
A intolerância com os intolerantes é necessária
Na segunda metade do século XX liberais e social-democratas criaram a falsa tese da prosperidade para todos, da cidadania para todos, dos direitos para todos e da riqueza duradoura das nações. O mundo seria  pacífico e civilizado. Hoje, o que se vê são os deserdados da globalização, os massacrados pelas guerras e violências sociais, os demônios soltos do fascismo e do neonazismo e a loucura governando o país mais poderoso do mundo. Este quadro anticivilizacional é filho do liberalismo, da social-democracia e da centro-esquerda. O liberalismo abandonou os direitos e a social-democracia e a centro-esquerda se tornaram o flanco esquerdo do liberalismo. A sua corrupção, a sua incompetência, a sua opulência fez com que deixassem um amplo campo aberto onde a extrema-direita ceifa impiedosamente e onde cultiva as ervas do ódio, da intolerância, da xenofobia e da violência. Aqui no Brasil, ódio, intolerância e violência são filhos do PSDB, do PMDB, de FHC, da esquerda medrosa, que por ação ou omissão albergaram os grupos fascistóides no vergonhoso processo de impeachment.
É preciso ser intolerante com os intolerantes, pois se eles triunfarem também seremos responsáveis. É preciso ser combativo contra uma elite predatória que nega direitos, cidadania e democracia para a maioria do povo brasileiro. É preciso ser intolerante com o Judiciário corrupto, violador da Constituição e das leis e que está a serviço dos ricos. É preciso ser intolerante com sonegadores, corruptos e com os privilégios dos políticos, dos juízes e do alto funcionalismo. É preciso ser intolerante com as desigualdades, com a sonegação de direitos, com o sistema fiscal que tira dos pobres para dar aos ricos.
O Brasil é um país desumano, impiedoso, incivilizado, maldoso e cruel contra a maioria do seu povo. O Brasil é guiado por uma equação perversa: predação e violência das elites e falta de virtude do povo. As esquerdas, os democratas e progressistas, em grande medida, são responsáveis por essa falta de virtude. Preferem reclamar do que lutar, preferem conciliar do que organizar e mobilizar. Inventam as mais mirabolantes teses para explicar as vitórias dos inimigos do povo e o seu próprio fracasso. Nas suas alucinações, anunciam vitórias que nunca chegarão. Não conseguem perceber que a última instância da política é a força. Inventam lideranças que não têm força organizada e que caem ao primeiro sopro de golpistas. E, sem força organizada e combativa, imaginam que podem fazer grandes transformações pela via das instituições sem perceber que os poucos avanços que conseguem serão recobertos por terríveis retrocessos nas suas subsequentes derrotas eleitorais ou pelo seu apeameto do poder por golpes.  
Neste tenebroso século XXI é preciso perceber que a ação política mudou de natureza: vivemos uma decadência da democracia, uma decadência da igualdade, uma decadência da liberdade, uma decadência dos valores humanísticos e uma decadência da civilização. Os inimigos de todos esses valores, direitos e instituições estão combatendo. Os antigos liberais e democratas estão empoleirados no poder e/ou no gozo de suas riquezas. O jogo democrático normal está desaparecendo, violentado pelos primeiros e mascarado pelos segundos. Se tudo isto é terrível para o mundo, é mais terrível para o Brasil - país não-democrático. Este mundo sombrio e este país sombrio precisam ser enfrentados com coragem e luta. As novas gerações precisam ser educadas e preparadas sob a égide dessas virtudes e práticas combativas.
Aldo Fornazieri - Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
https://jornalggn.com.br/noticia/por-uma-politica-de-combate-por-aldo-fornazieri