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sexta-feira, 20 de abril de 2018


A imagem/foto de Joka Madruga


A Noite chegou tarde 

Pedro Tierra

“Você me prende vivo, eu escapo morto. De repente, olha eu de novo... perturbando a paz, exigindo o troco...” Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro.
O reverso da madrugada bate à tua porta. 
Mais uma vez. Como há quarenta anos.
Com o nó dos dedos desta noite 
que insiste em revogar os códigos do tempo 
e prolonga sua aspiração à eternidade.

Há quarenta anos vem polindo algemas. 
Com os olhos atentos 
de quem te acompanha 
por tantos desertos, 
em tantas batalhas, 
acendo a suspeita: 
a Noite chegou tarde 
ao encontro que todos esperavam...

A esta altura, você já é 
a própria madrugada, 
luz intangível que emana 
para alimentar esperanças:

Impossível cercar com algemas 
os pulsos da madrugada.

Homens vestidos de preto, 
sob as ordens de outros tantos, 
igualmente vestidos de preto 
te conduzem a Curitiba. 
Julgam que você lê um livro 
no silêncio da cela. E se enganam.
Você está no alto da página de um jornal, 
em Nova Iorque, sob a neblina de Londres, 
aos pés de Luís de Camões, em Lisboa, 
na Puerta del Sol, em Madri.

Não suspeitam, os homens de preto, 
que a Universidade de Rosário 
te confere nessa hora 
o título de Doutor Honoris Causa...

Você desembarca em Roma, 
Berlim, Moscou ou no alarido de Beijing...
Anda por uma rua de Paris 
que se despede do inverno, 
acenando flores ainda indecisas 
para tecer a irrevogável primavera 
que se anuncia.

Você roda pelo sul do país, 
sob o fogo das carabinas
ou no Eixo Norte da transposição, 
rebatizado em Monteiro, na Paraíba. 
Ali o São Francisco lança água 
e esperança 
nos olhos de teus irmãos.

Você chama o país a S. Bernardo, 
para devolver São Bernardo ao país: 
os sentidos de S. Bernardo, 
os sonhos de S. Bernardo. 
E avisa: 
“não se aprisionam os nossos sonhos” .

Hoje você foi visto, finalmente... 
agitando bandeiras na cobertura 
de um certo tríplex, no Guarujá... 
e expôs a fraude da sentença 
que te condena 
e a verdade que te absolverá.

A vida é breve para uma luta tão longa. 
Não basta uma vida para tantas batalhas. 
“Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria...” 
repetem há 200 anos as montanhas de Minas... 
A vida, há que multiplicá-la por tantos 
quantos forem teus filhos vivos.

Nossa palavra será o teu alimento. 
Devolvemos a você, 
raiz e destino de nossas esperanças, 
a força de sua voz rouca 
que nos ecoa no coração, 
com a ternura rabiscada na letra incerta 
das crianças, dos peões ou das mulheres do povo 
que te escrevem – garrafas ao mar... – 
mensagens de acender 
amor em dias de indignação.

O amor em tempos sombrios, 
nos ensina a soprar sob as cinzas 
as brasas sagradas da cólera...

*Pedro Tierra é poeta. Militante do Partido dos Trabalhadores.



Acampamento “Lula Livre”, Brasília, antevéspera do 21 de a solidariedade é vermelha.

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